A Máquina de Moer Pessoas

Solaris
6 min readJan 19, 2024

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ficou 250, vai pagar no crédito ou pix?

Entramos na sala, nos sentamos em roda, como todos os professores gostam de fazer. Começamos a ouvir os relatos de atendimento:

“Ai, professor. Odiei. Ele é muito machista!”

“Nossa, senti nojo do paciente. E ainda por cima ele deu em cima de mim, me convidou pra ir em um sítio com meu marido, aposto que ele queria me ver de biquíni.”

O professor ria, não era do tipo militante, estava mais próximo dos psicanalistas tradicionais que acreditam no método mais que na ideologia. Esse tipo costuma ser o que realmente quer ajudar o paciente, por isso o escolhi como meu supervisor, dentre todas as escolhas ele parecia a melhor opção.

Ele dizia o óbvio como um obeso numa loja de cristais, morrendo de medo de quebrar algo.

“Olha, você tem que ter paciência, afinal, isso é uma transferência, você precisa saber utilizar ao seu favor”

Era a primeira sessão. Indignado, me dirigi a elas tentando manter a polidez, mas sem perder meus colhões.

“Gente, o método exige que nós tenhamos imparcialidade. Não podemos julgar o paciente, você já chegou chamando ele de machista, talvez isso atrapalhe a sua análise do caso.”

Pensei que o professor apoiaria o que eu falei, mas sua fidelidade ao método terapêutico parecia ter acabado na folha de pagamento. Um homem na universidade não tem liberdade para discutir abertamente, mesmo estando certo, já que a aluna poderia abrir uma reclamação contra ele “falta de empatia”, “machismo”, sei lá. Ele só assentiu com a cabeça enquanto o tão precioso método escorria pelo ralo.

Quarta-feira, 20h15. A professora coloca uma música sobre racismo para ouvirmos e “debatermos”. Uma aluna branca se levanta e todos os negros da sala miram seus olhares nela. Ela não diz nenhum racismo muito explícito, não dá para saber o quão racista ela foi, afinal, quem decide isso é o militante. Torçamos para que o militante esteja de bom humor.

Antes de finalizar seu discurso emocionado sobre racismo, a branca finaliza com uma frase de efeito:

“O BBB é uma escola para nossa vida”

Acho que havia alguns militantes pretos no BBB, não sei, não vi.

Todas as quartas eram iguais, os mesmos militantes, o mesmo discurso. Até que algo me despertou atenção: o dado de que os homens são as maiores vítimas de suicídio veio a tona, a professora não podia ignorar. Será que ela poderia admitir que a sociedade não dá trela aos homens? Claro que não.

“Gente ao que podemos atribuir os suicídios dos homens? A masculinidade frágil!”

O máximo de piedade com pessoas que estão tirando a própria vida que esse ser abjeto consegue conceder é ofender sua identidade sexual. Se matou? Mas também, ele tinha medo de ser viado. Na próxima vez, seja menos machista.

Uma Mestre em Psicologia Social, senhoras e senhores. Consigo imaginá-la abrindo o X (Twitter) e pensando “vou estudar sobre o comportamento agora”.

Parei de frequentar essas aulas.

Terça-feira, 20h45. Supervisão de estágio. A professora de olhos esbugalhados e cara derretida ouvia as apresentações de cada um dos estagiários.

“Eu quero ser psicóloga clínica, vou trabalhar com atendimento para mulheres… eu não tenho paciência para ficar uma hora inteira dando razão para macho.”

A sala ri, a professora acha graça.

Naquele semestre eu atendi um rapaz que tentara se matar três vezes após a morte da mãe, a única pessoa próxima a ele. Imagino o que aconteceria se ele fosse atendido por essa estagiária.

Esse texto não é sobre a misandria presente no ambiente acadêmico, é sobre o baixíssimo nível de psicólogos que estão se formando hoje. Talvez o leitor pense que estou sendo duro por falar sobre estudantes, pois ainda estão em formação, mas em 5 anos nunca vi um professor corrigindo um aluno que tenha sido impiedoso com um homem.

A causa dessa má conduta é o arcabouço teórico a que somos submetidos na academia. A Psicologia Social no Brasil se tornou sinônimo de estudos marxistas, onde basicamente se intrui os futuros psicólogos a enxergar as relações sociais como meras disputas de classes, onde claramente há um opressor e um oprimido, assim estimulando o martírio de um dos lados da relação e o favorecimento do outro. Nada mais longe da realidade concreta das relações humanas, as quais se esfacelam se não houver cooperação mútua, mas como falar sobre boas relações quando se entende que todas as relações humanas são baseadas em exploração?

A forte influência marxista na academia acaba por minar a psicologia. O método psicoterápico exige que se tenha um interesse genuíno e apartado de papéis sociais para o entendimento do que é o ser humano. As relações sociais desse indivíduo devem ser levadas em conta durante o processo terapêutico, porém não podem ser o ponto de partida do terapeuta. O ponto de partida é o ser humano, real, que chega ao seu consultório com um problema e anseia pela solução.

Nas palavras de Nelson Rodrigues:

“o homem marxista é o homem que não morre. Em toda a obra de Karl Marx não há uma só citação sobre a morte.”

Essa antropologia de um homem que não morre é o exato oposto ao homem relatado pela Bíblia Sagrada. O homem cristão só tem esperança porque bem sabe que existe uma morte, mas não apenas isso, uma ressurreição. A ressurreição (de cristo e do homem) é o grande motivador de todos os cristãos, pois é na ressureição que teremos a Vida Eterna e o acesso direto ao Criador. A morte nessa perspectiva não se torna algo ignorável, mas desejável, como o moribundo que anseia ter seu nome chamado para tratar das chagas com o médico. O Cristão vive na eterna espera (ou melhor, caminhada) até a morte. Neste sentido, o luto e as doenças terminais não removem a esperança do sujeito que sofre por elas, mas fortalece a esperança por meio do que chamamos de Fé. Fé é a certeza das coisas que não se podem ver, a saber, a Vida Eterna. A literatura médica extensamente relata que os pacientes que possuem uma fé, uma visão espiritual sobre sua vida, em geral, são os que melhor reagem aos tratamentos, física e psicologicamente falando. Isso se dá, porque a espiritualidade é parte do ser humano, como Viktor Frankl dizia, o é homem bio-pisco-social-espiritual e cada uma dessas dimensões são inseparáveis e fundamentais para a saúde do sujeito. O homem religioso está mais próximo da plenitude humana, por isso consegue se curar com mais facilidade, pois ele está pleno “funcionamento”.

O homem marxista não morre. O silêncio perante a morte não é uma falha do pensamento marxista, mas uma condição para os interesses de Karl Marx, cujo objetivo era “sufocar o mundo” nas suas próprias palavras. A tentativa de destruição completa de tudo o que se sabe como mundo, não para um fim utópico como bradam os comunistas, mas para a derrocada do ser humano. A destruição de todos os valores que permitem o ser humano ser livre de suas amarras materiais para que permaneçam como cachorros amordaçados à serviço do partido (que a essa altura mais parece com o diabo). Por isso, o marxismo teórico tenta afastar o indivíduos dos assuntos eternos, os mais importantes, como o contato de Deus e a própria Vida Eterna. Assim como o diabo que oferece mil prazeres dessa terra para que o homem se desvie do caminho.

Ao contrário do cristianismo, o marxismo não pode tornar o homem um ser completo, pois sua presença exige entender o ser humano como mero membro de um grupo, que não possui e nem deve possuir autonomia, pensamentos próprios, criatividade ímpar ou desejos pessoais. Aos marxistas não é possível que se exista Machado de Assis, um filho de ex-escravos que acende socialmente e, ao invés de relatar os sofrimentos de um jovem que teve de trabalhar desde cedo, preferiu debater os assuntos universais e eternos da literatura mundial. A escolha de Machado por valores universais à experiência do grupo dos pretos e excluídos da sociedade tornou-o indesculpável para muitos acadêmicos, que, na impossibilidade de diminuir o maior escritor da língua portuguesa, não permitem que sua memória seja evocada sem cutucar sua suposta falta de identidade grupal.

Nesse sentido, as teorias marxistas aplicadas ao cotidiano do homem não podem ser efetivas, mesmo que contando com a boa vontade do terapeuta, não são capazes de lidar com a complexidade humana e buscam a massificação do homem esmagando as individualidades do sujeito. O ódio dos marxistas não é contra a classe burguesa ou qualquer que seja a classe opressora, mas contra todo indivíduo que se mostre autônomo, que não precisa de uma classe social.

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